A minha tela
Lindolfo Cunha
Não sei onde começou, sei só onde está.
Impossível esconder um sentimento que me rasga o peito, esmiúça-me a alma e que me leva novamente para uma infância. Tudo era perfeito lá, hoje é perfeito.
Não sei qual é o teu segredo, não o quero descobrir. Prefiro viver hoje na minha ignorância, sem o medo, sem tudo o que me leva para trás.
Sinto-me patético, eufórico, tento a todo o custo manter ao nível de um adulto.
É difícil.
Apanhaste-me de surpresa, assustaste-me. Que susto tão agradável.
Permaneceste.
Não te importaste por estar sujo de tinta, ouviste a minha história e ficaste ao pé de mim. Sentaste-te ao meu lado e ficaste a admirar a minha tela.
Foi ao pintar a minha história naquela tela gigantesca e colorida contigo ao meu lado que percebi. Tinha uma cor que lhe estava em falta. A mais importante de todas.
A tua.
Foto de: Ylanite Koppens