A ti...
Lindolfo Cunha
Nunca acreditei no amor à primeira vista até o meu olhar se cruzar com o teu numa noite fria de Inverno. Não pronunciamos uma uma única palavra. Não era supostos estarmos naquele local com aquelas pessoas mas o destino não facilitou.
Não consegui dormir a pensar no teu olhar desde o primeiro dia, quem serias?
Longe de mim pensar que irias ficar na minha vida permanentemente.
Voltamos-nos a cruzar, as palavras saíram, a cumplicidade começou nesse instante que até hoje permanece. Era estranho ficar longe de ti, negava o amor com todas as forças, não me me queria apaixonar mas tu tinhas uma química especial, era como um íman.
Noites sem dormir só para poder conversar contigo, conversas até ao sol nascer novamente e até que o impensável aconteceu.
O beijo.
O pior de sempre.
Um beijo a medo não fosse estar a condenar uma amizade que tanto estimávamos. Eras única para mim.
Os dias foram passando, os beijos aumentando. Era tudo tão perfeito.
Os dias passaram a anos e com amor, com muito amor casamos. Éramos cúmplices, éramos amigos, éramos só um.
Mas tudo tem um fim e o nosso amor também.
Não conseguimos compensar distâncias, as conversas foram-se perdendo no chuveiro, esquecemos-nos dando mais importância às situações da vida.
Fomos pais.
Hoje divorciados, mantém-se tudo o que nos uniu. O amor foi substituído por o carinho e por a gratidão. Contornamos a nossa falha e substituímos pelo amor para a nossa filha, ela tem o melhor de nós, é feliz e nós também somos por a ver assim. Nunca ninguém irá entender o que nos une, o nosso carinho, as nossas conversas, o nosso passado. Fomos felizes juntos e é isso que nos mantém.
Recordo-me de todas a viagens contigo no meu ombro, todas as nossas danças com um sorriso apaixonado nos lábios, a ansiedade que tomava conta de de mim por te ver partir numa segunda feira de manhã, desejando que chegasse rapidamente a sexta só para te voltar a ter nos meus braços.
A ti Patrícia sim, digo o teu nome no meu texto.
Obrigado por seres quem és, por nunca saíres do meu lado, mesmo sabendo que este coração esteja a ser partilhado. A ti Patrícia, agradeço-te por tomares conta de metade de mim, por ficares acordada noites a fio para cuidar da nossa menina enquanto eu ando na boémia, por a educação exemplar que lhe dás enquanto passeio numa praia com amigos, por abdicares de ti.
Obrigado por me ensinares o que era o amor.
Numa sociedade de rancores e ódios é difícil aceitar um casal divorciado com uma boa relação.
A ti.
Obrigado por fazeres de mim um homem feliz no meio de tanta tristeza, por me ensinares a ser pai.
Nunca ninguém nos irá entender, mas nós entendemos-nos.
A ti.
Um abraço caloroso como se fosse o nosso primeiro.
Admiro-te enquanto mulher, enquanto mãe, enquanto mãe da minha filha e nunca irei ter vergonha de o dizer.
Patrícia, mãe de metade de mim. obrigado.