"Onde falhamos?"
Lindolfo Cunha
Passaram o dia a trocar SMS, era impossível não discutir, era impossível decifrar a intenção de cada palavra escrita. Entre o amo-te e o odeio-te atira com o telemóvel para o sofá em desespero por não saber o que falar mais.
Sufocado decidiu sair sem destino, destino esse que o levou ao sítio do primeiro encontro, sentou-se naquele rochedo debruçou os braços nos joelhos balançando-se inquietamente. Pensava em toda a felicidade vivida naquele local, na paisagem que deixou de ser mágica por não ter os braços dela enrolados no pescoço, nas memórias que o faziam reavivar sentimentos adormecidos e enquanto sonhava acordado sente uma mão no ombro. Nem sequer olhou para trás, um vulto sentou-se ao lado dele. Era ela!
“O que fazes aqui?”
Ela não abriu a boca, manteve-se em silêncio como se tivesse a relembrar o mesmo que ele.
Ficaram largos minutos sem pronunciar uma única palavra e ao som do bater das ondas nos rochedos ele pergunta:
“Onde falhei?”
“Onde falhaste?
“Onde falhamos?”
Não se conseguiam explicar e limitaram-se a olhar um para o outro com o olhar encharcado de lágrimas iluminado pelo brilho da lua, sendo secado instantaneamente pela brisa que se fazia sentir.
“Não me voltes a contatar” pediu ela, dando-lhe um beijo na cara.
Levantou-se e foi-se embora muito rapidamente.
Ele ficou impávido e sereno vendo-a a entrar no carro.
Arrancou como se tivesse a fugir do destino, enquanto ele ficou a ver aquele faróis vermelhos cada vez mais distantes como ditando o fim quando os deixasse de ver.
A adrenalina subitamente tomou conta do corpo dele e tremia como se tivesse com hipotermia e foi aí que percebeu, percebeu que tinha sido de vez.
Foto de: Sara S.
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